sexta-feira, 28 de abril de 2017

Crônica BAMBA DE CASA | Por Damião Cordeiro


’Como um sapato velho mas ainda sirvo  basta você me calçar que aqueço o frio dos seus pés” - 1981 - Mú Carvalho /Cláudio Nucci/Paulinho Tapajós 

Às nossas carências éramos peritos em matéria de sobrevivência. Sonhos avoavam altos altos. Eu chegava bem na horinha do almoço, e nem dava tempo de mastigar vagarosamente um gostinho a mais do par de bamba em meus pés. Com pena eu tirava-o para envoltar com ternura os pés de meu irmão da ponta da fila.

Era só trocar o capucho de algodão. Era a vez dele degustá-lo um bocadinho pelo caminho da escola. (De noite, seria a vez do irmão primeiro de todos). Pisávamos altos; nuvens de sonhos; mas o caminho não era suave. E por via desses amores mútuos, compartilhados no fraternal, os pés eram metidos dentro da boca do bamba; a língua presa sob o amarradilho do cadarço para não dar o que falar aos terríveis ouvidos da alheia escutância. 

Assim, escondíamos a riqueza de nossos espíritos para não inflamar inveja qualquer. Pedagogicamente, sem saber o porquê, a gente usufrui do beabá da vida tateando em sutilezas. Macios de simplicidade.   

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[ Este texto foi originalmente publicado na 2ª edição do jornal impresso FOLHA DE PORTEIRINHA E REGIÃO. Se você quer apoiar este trabalho, ajude-nos a divulgar o nosso jornal. Ele é distribuído gratuitamente graças ao apoio dos anunciantes. Passe na banca de revistas da Praça Odilon Coelho e pegue seu exemplar ou entre em contato conosco nas redes sociais!]

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