Autor de 5 livros, Itamaury Teles de Oliveira
é um dos porteirinhenses que enche nossa terra de orgulho. Dono de um currículo
extenso, cheio habilidades e uma vasta experiência profissional, ele fica ainda
melhor apresentado por aqui como filho da escritora Dona Palmyra e do saudoso
Geraldo Teles. Itamaury é neto de Filogônio Teles de Menezes, que trabalhou
pela emancipação de Porteirinha, e irmão de outros nove ilustres
porteirinhenses, todos com nomes iniciados com a letra ‘’I’’. Recém chegado do
México com sua medalha de prata conquistada na Feira Internacional de
Literatura, ele nos
concedeu uma entrevista especial em
que falou sobre a paixão pela literatura, sobre saudosismo, projetos futuros,
entre outros assuntos. Pegue uma xícara de café e venha conferir essa prosa com
a gente ;-)
Folha
de Port- Como nasceu a paixão pela escrita e o que te inspira para escrever?
Itamaury - A minha paixão pela escrita
vem desde quando eu fazia o curso primário e uma redação minha foi escolhida
para sair no jornalzinho "Meu Brasil", do Grupo Escolar João Alcântara.
Era um relato de viagem de carro, entre Porteirinha e Montes Claros, com
paradas na estrada para almoçar, tomar café, jantar e até para catar pequis. A
minha inspiração resulta, certamente, de minhas viagens, das leituras e das
minhas observações do dia a dia. Creio que nada sai da nossa mente sem que
antes tenha passado pelos
nossos órgãos do sentido.
Seus
livros possuem importante destaque no meio literário, já tendo sido
inclusive
indicado para vestibular. Mas agora, você foi premiado em um
concurso
internacional. Qual a emoção ao receber a medalha de bronze da Feira
Internacional do Livro, em Guadalajara no México?
A emoção ao receber a notícia da terceira
colocação na categoria prosa foi muito grande, diante do alto nível dos escritores
concorrentes. Essa Medalha de Prata, recebida em Guadalajara, tem um grande
significado para mim: foi o
primeiro prêmio literário que recebi,
na primeira vez que resolvi participar. Emoção maior foi saber que das duas
crônicas premiadas uma falava das "mornas águas do Rio Mosquito", o
que confirma a máxima de Leon Tolstói, contida na epígrafe do meu livro "Urubu
de Gravata": se queres ser universal, fala da tua aldeia.
Além da
premiação, o que mais te chamou a atenção neste evento internacional?
Chamou-me a atenção a grandiosidade da
Feira, considerada a maior do continente americano e a segunda maior do mundo, atrás
apenas da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha.
O que
de Porteirinha você carrega em suas andanças pelo Brasil e pelo mundo?
De Porteirinha, carrego muitas
estórias para contar. Tenho muito orgulho em falar das minhas raízes fincadas
nesta pequena e bela cidade no sertão das Minas Gerais.
Qual a
maior lembrança de nossa terra?
Tenho tantas e boas lembranças da
minha terra que fica difícil para mim escolher a maior. Ótimas recordações do
Rio Mosquito; da Cachoeira do Serrado; do Cine Palladium; da fazendinha do meu
pai, no Guará; das festas de Serra Branca e de São José do Gorutuba; as
horas-dançantes e festas no
Clube Social...
Recentemente,
Porteirinha completou 80 anos com muitas conquistas, mas ainda com muitos
desafios. Como você enxerga o caminho que a cidade está traçando e o que você
deseja pra essa terra?
Nos 80 anos de Porteirinha,
completados em dezembro último,
relembrei meu avô, Filogônio Teles de
Menezes, protagonista
da sua emancipação de Grão Mogol.
Fizera tudo
secretamente, para não haver movimento
contrário dos
políticos de Grão Mogol. Ele era
tropeiro e conhecia como
ninguém o território que palmilhava
com sua tropa, levando e
trazendo mercadorias e novidades. A
formatação do novo
município, feita por ele, foi aprovada
integralmente, em
17/12/1938, pelo Governador Benedito
Valadares.
Todavia, não há uma rua sequer
homenageando a sua
memória. Há, apenas, uma escola
municipal, na zona rural,
com o seu nome. Mas, segundo soube,
está sendo fechada.
Penso que essas injustiças históricas
não devem continuar.
Como
escritor, qual seu maior orgulho?
Ser reconhecido como tal, receber boa
crítica dos livros
publicados, hoje encontrados em boa
parte do território
nacional e em alguns países, em pelo
menos três continentes.
Só no México foram vendidos, e alguns
doados,
60 exemplares dos meus livros Urubu de
Gravata, Doce
Prejuízo e Balangador de Rede.
O que
você diria para quem deseja ser escritor, mas ainda
acredita
que essa é uma realidade distante? Alguma dica?
Recomendo ler bons escritores, ser
atento observador das
ocorrências cotidianas, conhecer novos
lugares e novas
culturas, observar atentamente o falar
e os costumes das
pessoas e conhecer o vernáculo.
Escrita é conteúdo e forma.
Por fim, escrever sempre. Não é tarefa
fácil, mas pode tornar-se prática gratificante.
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Adicionar legenda |
Porteirinha
possui muitos poetas, escritores, músicos e artistas
em geral. Você acredita que isso é reflexo de uma
manifestação
natural que ocorre em qualquer lugar da nossa
região, ou que existe um diferencial no município
que as
pessoas se sentem estimuladas à produção artística?
Nada nessa área ocorre por acaso,
naturalmente. Tudo é fruto de acontecimentos locais que ensejaram
condições satisfatórias capazes de promover o
florescimento de talentos
em diversas áreas do conhecimento. Há
que se ter boa base escolar e cultural, incentivo material
e foco para que sejam
alcançados novos patamares pessoais e
profissionais. É da cultura do porteirinhense, afeito ao
trabalho e ao estudo, estar sempre preparado para as oportunidades
que a vida lhe
oferece. Sem falsa modéstia, de uma maneira
geral, somos bons profissionais, em tudo que fazemos.
Nossa visão vai muito além das montanhas que nos cercam.
Atualmente
você é presidente da Academia Montes
Clarense
de Letras. Qual principal objetivo da entidade?
Existe
alguma ação de incentivo para novos escritores e
publicações?
O principal objetivo da Academia
Montes-clarense de Letras é
congregar escritores residentes em
Montes Claros, incentivar o
gosto pela leitura e pela produção de
obras literárias, editar sua
revista literária, manter biblioteca
acessível a seus membros e
à população em geral e promover o
intercâmbio com outras
academias.
Por
Montes Claros ser referência no Norte de Minas, a
entidade
tem atuação regional ou apenas na cidade?
Nossa área de atuação estatutária é
restrita a Montes Claros,
embora estejamos - todos os 40
acadêmicos - sempre em
constante interação com diversas
cidades da nossa região, em
lançamentos de livros, palestrando e
incentivando a produção
literária. É nosso pensamento lançar
sementes para a criação
de novas academias de letras na
região. Porteirinha é uma
forte candidata.
Sua mãe
também é uma grande escritora, já lançou dois
livros
e faz parte da Academia Feminina de Letras de
Montes
Claros. Como surgiu inspiração na família? Quem
incentivou
quem?
Esta é uma via de mão dupla. A minha
formação cultural devo
muito a minha mãe, que sempre
disponibilizou meios para que
tivéssemos acesso a boas leituras. Por
outro lado, tendo
lançado livros bem antes dela, pude
ajudá-la na edição dos
seus dois livros de memória histórica,
na condição de
coordenador editorial.
Sabemos
que você tem um grande acervo fotográfico, além
de
muitas informações sobre a história de Porteirinha, que
volta e
meia são divulgadas nas redes sociais. Já pensou
em uma
forma de disponibilizar isso de forma integral para
o
público?
Estou pensando neste assunto há um bom
tempo, mas outras
prioridades se antepuseram. Tenho
muito material sobre
Porteirinha e pretendo
disponibilizá-lo com a publicação de, no
mínimo, dois livros, já bastante
adiantados: "Serra Branca é
uma festa" e " Álbum
histórico de Porteirinha e sua gente".
Nós, da
Folha de Porteirinha e Região, lhe parabenizamos
pelo
trabalho e lhe agradecemos pela atenção e por
representar
tão bem nossa terra no cenário literário, agora
inclusive,
no meio internacional.
Não há de quê. Fico sensibilizado com
o reconhecimento dos
meus conterrâneos. Como dizia o
saudoso amigo e confrade
Haroldo Lívio, "muita fumaça
ainda sairá desta chaminé".
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